Empreendedores de Irecê - Paulo Freire (III)

(Continuação da postagem II)


Anos depois, o pai deste homem morreu. E o homem continuou vivo, lastimando seu estado financeiro, até que um dia, após mais uma decepção, decidiu acabar com sua própria vida. Olhou o pacote pendurado, subiu em um tamborete e retirou o pacote, disposto a tomar o veneno e se acabar de uma vez por todas. Mas sua surpresa foi grande: aquilo não era veneno, aquilo era uma fortuna em pedras preciosas!

O homem voltou a ser mais rico do que era antes e com a mudança de sua história, as pessoas tentam se reaproximar novamente. Diziam ao vê-lo: “Fulano, ha quanto tempo você está sumido! Eu gosto muito de você! Olha, eu tenho um filho para batizar e quero que você seja o padrinho.”

Outro dia vem o convite para uma festa muito badalada, em que as pessoas faziam questão de sua presença. E como ele estava demorando de chegar, uma pessoa vem e diz: “Olha, as pessoas estão esperando você, porque a festa não pode iniciar antes de sua presença. “

Este homem então convida um trabalhador e diz: “Você vai a festa me representar.” E então dirigiu-se ao guarda-roupa e pegou o mesmo terno que costumava usar quando era destacado e o colocou no cabide e disse para a pessoa que trabalhava com ele: “Olha você vai lá e vá segurando este cabide com o terno.” E o rapaz, foi a festa importante, levando o terno pendurado em um cabide. Quando ele chega, as pessoas perguntam: “E fulano, está todo mundo esperando aqui. E ele até agora nada, estamos atrasados.”

O trabalhador então disse-lhes: “Olha, ele não veio, mas mandou aqui o terno, porque o importante não é a presença dele e sim o que ele representa.”

Paulo Freire passou por transformações semelhantes ao do homem do terno. Hoje já não olha para títulos ou para riquezas. Vê as pessoas apenas como um homem ou uma mulher. Sua casa é freqüentada pelas pessoas mais humildes. E as casas que ele freqüenta são as de pessoas mais humildes. “Depois de buscar prazeres em bares e festas, de ser presidente de clube, percebi que dentro de mim havia uma enorme frustração, um vazio, um buraco. Com a lição que passei, aprendi a respeitar o ser humano, a ver Deus nas pessoas e hoje prego isso.”

“Eu acho que o problema social da nossa cidade, do nosso país, não é o problema do prefeito, não é o problema do governo, não é o problema do presidente. É um problema nosso. Se cada um de nós, que Deus tem dado condições, abrisse mais nosso coração e fossemos mais sensíveis aos problemas que acontecem na rua, nós poderíamos evitar muita marginalização, que hoje acontece em decorrência de nossa insensibilidade. Este é um problema meu, seu, nosso e de todos nós.”

O loteamento que leva o nome do grande sociólogo Paulo Freire, cresceu rapidamente com a construção da Igreja Batista Nova Esperança. Hoje contém mais de duzentas casas.

Quando seu proprietário o adquiriu, não tinha o menor interesse em construir ali uma igreja, mesmo porque a aquisição foi feita antes de sua conversão ao protestantismo. Seu interesse era construir ali a Fundação Paulo Freire. Os planos mudaram para melhor. Junto a igreja, foram construídas dez salas de aula que beneficiarão a crianças e adultos, independente de denominação religiosa: sejam católicos, espíritas ou protestantes, todos serão beneficiados, com cursos que vão da alfabetização à quarta série e cursos profissionalizantes de computação, corte de costura e música, entre outros.

(Fonte: livros do escritor Jackson Rubem : Irecê: História Casos e Lendas; Irecê, Um Pedaço Histórico da Bahia; Irecê, A Saga dos Imigrantes) e Brasileiros Pré-Cabralianos (Brazilians Before Cabral)

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