História de Irecê - Casos (I)

Em Irecê havia também um senhor muito culto, destes que já leu todos os tipos de livros, principalmente aqueles que mostram a inexistência de Deus ou pelo menos que esculhambam com Ele. Para esta pessoa, Deus era a lama que se encontrava nas ruas, era a bosta do animal porco, era a flor que se murchava logo, era o urubu encorujado nos telhados das casas, era um toco ardendo em fogo, transformando-se em cinzas. Em outras horas, Deus não era nada disso, Deus sequer existia.

Mas ele gostava muito de se exibir, mostrando para todos que o Deus que os outros diziam existir, não existia, não passava de uma ficção.

Certo dia mandou construir um enorme tanque de cimento, com capacidade para quase cem mil litros de água. A obra causava admiração em todos que a observavam.

O grandioso senhor, convidou muitos para irem a sua fazenda num dia de domingo, presenciar a grandiosidade de sua obra e tomar umas cachaças durante a inauguração.
Era pleno período de seca. O sol estava muito quente. O vento era geral. Nem sequer havia o menor sinal de chuva. As chuvas só viriam uns quatro meses mais tarde.
Então ele pediu silêncio aos amigos e disse:

“Vejam este Deus que alguns de vocês dizem que existe, se este Deus existisse mesmo seria um tremendo vagabundo e incompetente. Se ele existe e tiver alguma competência então que mostre em cima desse tanque. Mas eu digo em voz alta e desafio o céu e a terra. Se Deus existe mesmo, ele é incapaz de encher este meu tanque de água!”

Coincidência ou não, no mesmo dia, embora no mais absoluto período de seca, uma nuvem preta formou-se em cima da roça do homem. O vento parou de repente. Todos pressentiram que alguma coisa estranha estava na iminência de acontecer. E aconteceu. Uma chuva torrencial caiu, quase que somente em cima da roça do homem, encheu o tanque dele, e o destruiu completamente!

(Fonte: livros do escritor Jackson Rubem: Irecê: História Casos e Lendas; Irecê, Um Pedaço Histórico da Bahia; Irecê, A Saga dos Imigrantes)

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